quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sobre desistir, estudar doente e técnicas de estudo

     Hoje, ao ler pela manhã o forum concurseiros, em um dos posts, o analista-tributário da Receita, Adinoel Sebastião, comentou sobre sua decisão de abandonar os estudos para o cargo de auditor. Cada um tem as suas razões e não irei entrar no mérito individual da decisão e sim nas razões genéricas pelas quais um candidato toma ou não uma decisão dessa. Durante minha caminhada rumo à RF, tenho visto muitos colegas desistirem, outros começarem, alguns sumirem do forum mas continuarem estudando... E cada um tem uma história e um motivo para parar ou seguir em frente.
     Creio que o maior amargor na vida de um candidato é o de quase passar. Nos concursos em que não passei - e foram vários - não passei por muitos pontos. Assim, o sentimento é de que mais um se foi, que venha o próximo. Porém, o sentimento inverso é quando se bate na trave. Quando se passa em 451º entre 450 vagas. Quando chamam apenas 23 excedentes e a sua posição é a 24ª. E, se pararmos para pensar, isso sempre existirá. Assim como sempre existirão os primeiros colocados e os últimos colocados. Em um concurso público, isso pouco importa. Mas, a dor de ver seu nome em 451º lugar, com 450 vagas, deve ser imensa. Imagino que esse fato cause até uma depressão pós-prova, uma vontade de xingar a tudo e a todos. Afinal, o que o 450º colocado sabe a mais que o 451º? Uma questão? Geralmente nem isso. Muitas vezes o critério de desempate é a idade mais avançada. Justo? Injusto? Nenhum dos dois. Apenas é do jeito que é. Resumindo, a sensação de nadar e morrer na praia é mil vezes pior do que a sensação de nadar e morrer em alto mar. Sempre terá aquele sentimento amargo de "e se eu não tivesse mudado a alternativa?" "e se eu tivesse lido o resumo uma vez mais?" "e se...?".
     Outro ponto que pega, somado ao bater na trave, é a sensação de viver tudo novamente. Todas as privações, todo o tempo e dinheiro dispendidos, o estudo sem panorama de edital... enfim, são mais dúvidas e incertezas que fatos concretos na vida do concurseiro. Tudo isso gera uma bagagem de conhecimento, mas gera, também, uma bagagem de cansaço físico e mental que, acumulada com a decepção, pode gerar o sentimento de desistência. 
     Um fato que serve para ilustrar esse pensamento, foi o que aconteceu em 2004 com o ex-boia-fria, e então maratonista, Vanderlei Cordeiro de Lima. Naquele ano, durante a maratona das Olimpíadas de Athenas, Vanderlei já tinha percorrido 36km de prova e estava em primeiro lugar com 40 segundos de vantagem quando - num gesto psicopata e covarde - foi agredido, parado e derrubado por um ex-padre escocês. De maneira guerreira, Vanderlei juntou forças, retomou a concentração e, orgulhosamente e em lágrimas, cruzou a linha de chegada em 3º lugar, levando a medalha de bronze. 
     Imagine, agora, o turbilhão de pensamentos que veio à sua mente naquele momento da agressão. Como é sabido, assim como nos concursos, o atleta se submete a uma rotina de treinos pesados, muitas vezes sem recursos financeiros e sem ferramentas de auxílio. Correndo, muitas vezes, descalço em ruas esburacadas de terra de algum sertão. Tal qual o concurseiro que estuda nas madrugadas por não ter tempo durante o dia, que sacrifica sábados, domingos e feriados, que estuda em biblioteca pública ou em livros doados e emprestados, o atleta se dedica e se concentra em um objetivo de vida, que se decidirá no momento de sua prova.
     O nosso 'ex-padre escocês' é a banca. Com pegadinhas, com matérias novas, com erros não anulados, com gabaritos modificados, com correções nas discursivas de maneira esquisita, com enunciados confusos e uma série de artimanhas para nos derrubar. Porém, o mais importante, é não nos deixarmos abater. Respirar fundo, tomar embalo e cruzar a linha de chegada. Mesmo que seja para ficar com uma merecida e batalhada medalha de bronze.


*****
     Mudando de assunto. Estudar é algo que envolve muito mais do que os livros, cursos e professores. Envolve o ambiente e o clima. E isso sempre influi no rendimento. Ultimamente, pelo menos aqui em SP, o tempo está extremamente seco. Além de frio. Com isso, acabamos ficando meio desanimados e até o rendimento na leitura ou na resolução de exercícios fica prejudicado. Mas, são os tipos de coisas que não adianta se debater. E sim se adaptar, como tudo na vida.


*****
     Considero que o estudo para concursos da área fiscal se divide entre o antes e o após a palestra do Alexandre Meirelles. Por que? Pois não lembro de ter ouvido falar em estudo em ciclos antes. Talvez eu até desconheça o verdadeiro inventor da técnica mas, em todo caso, fica aí o crédito a ele.
     O estudo em ciclo se baseia em estudar todo o edital - ou partes dele - em ciclos de até 24 horas. Claro que isso não significa que as 24 horas sejam de um dia. Pode ser dividido - por exemplo - em 8h durante 3 dias.Assim, por exemplo, em um dia se estudaria as matérias da P1, no outro da P2 e no outro da P3, divididas de acordo com a facilidade/dificuldade de cada um, em mais ou menos horas para cada. Para quem tem tempo e muita organização é o método perfeito. Para quem não tem um ou ambos requisitos, a coisa começa a complicar. E complica pelo simples motivo de que, geralmente, após 1h30 de estudos você vai parar ou no meio da teoria ou na metade dos exercícios. Aí você pensa "ah... basta aumentar de 1h30 para 1h40 ou 1h50 até finalizar o assunto." Ok... aí você sacrifica da próxima matéria. E assim vai. Outro ponto. Após 1h de estudo, alguém o chama para resolver um assunto. E lá se vai a organização e o planejamento daquele dia. E se precisar perder um dia? Aí enrolou tudo.
     Com isso, adaptei uma técnica de estudar poucas matérias a cada semana. Assim, certa semana (inteira) eu estudava as matérias da P1. Na próxima, da P2. E, por último da P3. Aí retornava. Isso é bom pré edital. Após lançado, acho que não seja a mais proveitosa.
     Hoje, pós prova 2009, estou fazendo um teste. Estou pegando algumas matérias mais desconhecidas e que eu menos saiba e estou fazendo um intensivão. Só estudando essas e deixando as demais um pouco de lado, apenas mantendo com exercícios - comentados - e leitura leve da lei seca. Pelo menos não serei pego desprevenido com tópicos desconhecidos, já que o estudo engloba todo o programa da disciplina.
     Acredito que agora seja o melhor momento para se aprender. Não temos um horizonte definido de próximo concurso, embora se cogite algo como final de 2011 ou começo de 2012. Em minha opinião, por ser o primeiro ano de um novo governo, acredito que leve um pouco mais. Se bem que em 2003 - primeiro ano do atual governo - teve. Não gosto muito de prever cenários pois tudo depende de uma conjuntura, muito maior do que muitos concurseiros pensam. O momento de aprender é agora, com calma, sensatez, conhecendo os detalhes da matéria e sedimentando o conhecimento. E, a partir do momento em que passamos a nos conhecer, fica mais fácil traçar uma estratégia para quando o edital for lançado.

     Para coroar o pensamento e o artigo de hoje, deixo-lhe um conhecido texto de autoria do escritor Luis Fernando Veríssimo, que se coaduna com o que foi escrito até aqui.

Quase

Ainda pior que a convicção do não,
é a incerteza do talvez,
é a desilusão de um quase!

É o quase que me incomoda,
que me entristece,
que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.

Quem quase ganhou ainda joga,
quem quase passou ainda estuda,
quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos,
nas chances que se perdem por medo,
nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes,
o que nos leva a escolher uma vida morna.

A resposta eu sei de cor,
está estampada na distância e na frieza dos sorrisos,
na frouxidão dos abraços,
na indiferença dos "bom dia", quase que sussurrados.

Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.

A paixão queima,
o amor enlouquece,
o desejo trai.

Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor.
Mas não são.

Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo,
o mar não teria ondas,
os dias seriam nublados
e o arco-íris em tons de cinza.

O nada não ilumina,
não inspira,
não aflige nem acalma,
apenas amplia o vazio
que cada um traz dentro de si.

Preferir a derrota prévia à dúvida da vitória
é desperdiçar a oportunidade de merecer.

Para os erros há perdão,
para os fracassos, chance,
para os amores impossíveis, tempo.

De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque,
que a rotina acomode,
que o medo impeça de tentar.

Desconfie do destino e acredite em você.
Gaste mais horas realizando que sonhando...
Fazendo que planejando...
Vivendo que esperando...

Porque, embora quem quase morre esteja vivo,
quem quase vive já morreu.
(Luís Fernando Veríssimo)

Parafraseando o autor, "embora quem quase desiste, ainda estuda, quem quase estuda, está desistindo aos poucos."

Um comentário: