terça-feira, 13 de julho de 2010

Um Estranho no Ninho

Como sobreviver em um ambiente hostil de matérias desconhecidas

     Para os concurseiros de formações diversas às Humanas, Exatas ou Sociais - como eu - o primeiro contato com essas áreas do conhecimento pode assustar, desestimular e servir como barreira para o avanço e a continuidade do estudo.
     Lembro-me de comentar com um amigo da academia onde trabalhava como fisioterapeuta, logo após a prova da Sefaz/SP de 2006, que aquilo (direito e principalmente economia e contabilidade) não era para mim, que eram coisas de doido. Até lembro vagamente de ter comentado algo sobre não mais me aventurar nesse mundo dos concursos para a área fiscal.
     Porém, ao ter contato com o pessoal do fórum, percebi que a média tinha sido baixa nessas provas e aquilo me deu ânimo de continuar. Afinal de contas, poucas dezenas de pontos separavam os aprovados dos reprovados. Obtive forças para continuar estudando. Ou melhor, continuar aprendendo como aprender...
     Embora eu não tivesse nenhuma experiência ou conhecimento, fui impulsionado pelo senso-comum. Lembro-me de ter pensado "-Bom, preciso começar a aprender Direito. Acho que o mais correto seria eu aprender primeiro o Direito Constitucional, que deve ser o troco principal e depois ir adicionando os outros" Deu certo. No começo eu nem sabia a diferença entre o STF e o STJ. Não sabia sequer o que era discricionário; subjetivo eu achava que era algo "vago" rs. Comprei o DC Descomplicado e li inteiro, sempre procurando no dicionário pelas palavras desconhecidas, como na vez em que não sabia se o correto era usar "é vedado" ou "é vetado". Hoje vejo a evolução. O conhecimento acumulado é como o crescimento de nossos filhos. Só notamos quando vemos as fotos antigas e as atuais. O conhecimento acumulado só é notado quando comparado ao nosso conhecimento do passado.
     Mas, o grande Tilt mesmo veio com a Contabilidade. O primeiro contato, bem tangencial, que tive com essa matéria foi através de uma abostila apostila. Tratava-se de um Ctrl-C Ctrl-V (cópia exata) da lei 6404, misturado com alguma mal redigida e superficial teoria. Até então, não tinha surgido nenhuma dúvida, já que mal eu havia estudado. Porém a situação mudou quando entrei em contato com um material de verdade.
     No começo, tudo ok. Ao chegar na parte de lançamento, pensei "-ah, moleza... lançar é colocar no papel os gastos e as receitas, sem problema". Dei uma lida rápida na matéria e ao ir para os exercícios, quebrei a cara. Errava todos. Resolvi reler a aula com mais atenção. Chegando na parte de débitos/créditos, li lá algo como "os ativos aumentam a débito, portanto ao entrar dinheiro no caixa a gente debita". Li e ao terminar de ler a palavra 'debita' voltei os olhos na frase e exclamei: "-DEBITA?! Como assim?! Esse livro deve tá louco, deve ter sido erro de impressão. " Aquilo não entrava na minha cabeça. Como 'debita', se quando eu coloco dinheiro no banco ele é creditado na conta? Comecei a raciocinar - de forma errada - que em contabilidade era tudo o inverso. Não busquei - num primeiro momento - entender o motivo daquilo, qual o raciocínio que o 'inventor' daquilo tinha pensado daquela maneira.
     Após muito apanhar, comecei a raciocinar do porquê das coisas serem como são. Essa é uma ótima maneira de se familiarizar. Trazer exemplos para a vida real porém sempre entendendo o porquê do raciocínio ser do jeito que é.
    
     Mas, nada está tão ruim que não possa piorar. Lendo uma entrevista do Alexandre Meirelles, ele relata que Economia seria mais difícil do que Contabilidade. Pensei comigo "-Vou começar já a estudar Economia então pois deixar para depois do edital deve ser loucura". E realmente seria... Mais uma vez cai no erro de tentar entender tudo através de exemplos do mundo real. Amargamente aprendi que toda aquela loucura de ideias que pareciam apenas um encadeado de suposições que levavam a outras suposições fazia sentido.

    Dessa maneira, creio que as principais lições aprendidas para desbravar o desconhecido foram:
- Ter paciência;
- Ter a certeza de que se houve alguém que aprendeu, qualquer um também pode aprender;
- Que não precisamos reinventar a roda, apenas saber utilizá-la e aproveitar dos conhecimentos dos pioneiros da matéria;
- Manter a motivação;
- Jamais deixar algo desentendido e rolar o desconhecimento adiante;
- Buscar entender a razão do ser como é;
- Tentar trazer sempre os exemplos para a vida real, porém sempre bem embasado e fundamentado;
- Ter disciplina e persistência;
- Buscar sempre o melhor e mais didático material;
- E por último, e mais importante, fechar os olhos, respirar fundo 3 vezes antes de começar a ler a matéria e repetir mentalmente a cada inspiração: "você quer, você pode."



P.s.: Post dedicado a concurseiros, professores e ex-concurseiros que, mesmo formados em áreas totalmente desconexas às do concurso, brilhantemente, alcançaram o objetivo e deixaram para trás preconceitos, dificuldades e sentimentos de inveja. Meus parabéns.

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