quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sentindo o peso da palavra "estabilidade"

     A vida continuava naquela toada; acordava cedo, pegava um livro e ia para a imobiliária. Fazia alguns atendimentos ao público, fechava alguns negócios, mantinha aquele ganho mais ou menos fixo todo mês e dava uma lida no livro. Naquela altura, eu já tinha tomado a consciência de que o estudo sério para concursos envolve muito mais do que um novato pode supor. Eu tinha uma idéia equivocada de que todos concorrem nas mesmas condições, porém, o que se vê na realidade é que as condições são as mesmas para todos porém nem todos estão na mesma condição. Há aqueles que só embarcam num concurso após o edital, outros que estudam antes e os da elite que são os que bateram na trave no último concurso e vêm sedentos de vontade de uma nova chance para dar o troco na banca. Esses são os gladiadores, a tropa de elite.
     Os ganhos mensais davam para manter as contas em dia, pagar um cursinho online e comprar alguns livros divididos em algumas várias parcelas. Porém veio a tentação... um convite para gerenciar uma outra imobiliária, com salário fixo, registro em carteira, comissão sobre o lucro geral, enfim.. um sonho. Tomei coragem e após um ano e meio na imobiliária em que comecei, parti para novos desafios, novas possibilidades em um ambiente totalmente diferente.
     Após ser formalmente apresentado em meu novo emprego, providenciei toda a papelada, dei continuidade ao meu registro no Creci e comecei em meu novo cargo. A época não era muito boa - começo de dezembro, época fraca em imóveis. E, como a imobiliária sob meu comando era uma filial, fiquei muito dependente da sede, já que todas as decisões eram tomadas por essa. Tive um início fraco, em geral. Houve uma queda brusca nos negócios e no segundo mês, sem ao menos ter tempo de demostrar minha capacidade, veio a surpresa: era uma tarde de segunda-feira, a gerente me chama e simplesmente numa decisão mais política do que gerencial diz que minha chance tinha terminado. Sem nem ao menos deixar o mês acabar. Senti toda a angústia de não ter estabilidade, de não poder me valer de um contraditório, de uma ampla defesa, de uma segunda jurisdição, nada.  Simplesmente tratado como uma peça que não está funcionando direito e precisa ser trocada por outra que se encontra em qualquer esquina.
     Um gosto amargo de impotência veio em minha boca. Tentava entender o porquê, buscar um culpado, um motivo, enfim... por que não esperar ao menos 3 meses para analisar o desempenho? Por que não entender as razões extrínsecas pela qual uma pessoa não busca uma imobiliária? Por que não pesar que há outros fatores, que não a habilidade negocial da pessoa, que fazem uma meta não ser atingida? Eram muitos os porquês e uma só a certeza: eu desejava um cargo estável, longe das ingerências e do mal temperamento de patrões e gerentes sem nenhum tipo de escrúpulos, que colocam o lucro acima das pessoas.
     E mais uma lição - dura lição - seria aprendida. Aprendida e jamais esquecida.

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