sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O desapego material

   Nessa semana aconteceu o sorteio do segundo maior prêmio da história das loterias no Brasil, um total de quase R$ 120 milhões de reais. Discussões sobre a lisura do sorteio à parte, o fato é que uma soma dessas faz a gente - pobres mortais - sonhar alto. Embora para algumas pessoas essa soma seja insignificante (o Eike Batista, por exemplo, declarou no programa Roda Viva da TV Cultura que fez um cheque de R$ 670 milhões para pagar seu IR), para a população maciça é uma grana que muda a vida. 
     Eu comecei a pensar em que eu faria e deixaria de fazer. Claro que tiraria alguns meses de férias, mas, eu acho que voltaria a estudar para concurso. Sei que pode parecer um certo ufanismo por esse cargo, mas o fato é que a vida de milionário deve cansar. Enfim, alguns concordarão, muitos discordarão, mas é assim que penso. Eu voltaria a estudar após alguns meses e voltaria com força. Primeiro compraria todos os cursos disponíveis. Segundo, estudaria sem nenhuma preocupação com a próxima venda ou com a próxima fatura do cartão de crédito. E terceiro, iria para a prova sossegado, de helicóptero, quem sabe, e me hospedaria num hotel 5 estrelas com massagistas catarinenses e gaúchas rs.
     Brincadeiras à parte, o ponto desse post é a respeito do (des)apego que alguns concurseiros têm pelo material de estudo. Primeiro, compram uma boa quantidade de livros. Após a empolgação inicial com a grande caixa recém-chegada dos Correios, abrem cuidadosamente o lacre e os colocam, ou melhor, os "repousam eternamente em berço esplêndido". A estante, no caso, faz as vezes de berço. Na hora do estudo, folheiam cada página como se estivessem folheando o original da carta de Pero Vaz de Caminha, só faltam colocar luva.  Livro de estudo é livro de estudo. E estudar é riscar, anotar, escrever nas entrelinhas, puxar setas, linhas, colar marcadores, enfiar folhas avulsas com anotações... Tratá-lo diferentemente, é como comprar um perfume e ficar com dó de usá-lo até ele passar da data de validade.
     Mas o pior ainda é o depois. A pessoa estuda, tratando o livro como filho único, e passa no concurso dos sonhos. Ótimo! Estabilidade, bom salário, segurança, nunca mais pensar em concursos pro resto da vida.... Aí vem o detalhe, vou repetir: nunca mais pensar em concursos pro resto da vida. E, juntando tudo isso, o que a pessoa faz? Ou ela guarda os livros para a posteridade ou então decide vendê-los a um precinho módico aos colegas concurseiros. Ora! O cara acabou de passar num concurso que vai pagar mais de 10 mil reais por mês e faz questão de recuperar 40 ou 50 reais gasto em cada livro?! Nem sei o que é isso. Se é muito apego ao material ou ao dinheiro. Por isso já deixo meu propósito escrito: assim que eu passar e for nomeado AFRFB, a primeira coisa que farei nesse blog será doar TODOS meus livros. Obviamente que alguns já estarão defasados até lá, porém sempre há alguém que possa se aproveitar de uma parte ou outra. E para ser o mais justo possível, a doação será através de sorteio.

     Claro que não mudarei a forma dos aprovados pensarem, mas essa é a minha.

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